EU DESEJO NESSE NATAL...
Me lembro que antes tudo parecia tão diferente. Tudo era tão mais simples, e o melhor presente era chegar no fim do dia de natal sabendo que tinha um colo de mãe pra descansar, de tanto correr, de tanto pular. Lembro da minha infância e muitas e muitas vezes a enalteço e torno sagrada.
Porque somente naquele tempo pude experimentar a plenitude do que chamam felicidade. Agora quando vejo começar essa peregrinação involuntária e inconsequente ao natal, aí me lembro que família mesmo era a da minha infância.
Eu era sozinha, mas lembro bem que fiquei escondidinha e ouvi minha mãe preocupada dizer ao meu pai que estava gravida. Sim eu ia ter um irmão pra repartir todos os meus sonhos. Quando a gente é criança tudo é tão fácil, eu não entendia o porque de tanta preocupação, só sabia que ia poder brincar com uma boneca de verdade. Depois soubemos que não era irmão, era irmã. O que não impediu que nosso maninho viesse mais tarde.
No natal mais poético da minha vida, nossos presentes passaram mais de um mês ao alcance de nossas mãos, perto de nossos olhos, caixas enormes. E a gente conseguia deixar se enganar, porque acreditava, porque sonhava, porque era criança. Imagina a alegria ao abrir o pacote e descobrir o que você mais sonhava. A bonequinha que todo mundo queria, e agora você tinha.
Mas não tinha tanto enfeite, nem tinha tanta pompa o nosso natal.
O encanto do meu natal era tanto, que não me deixava entender o rosto do meu pai cansado, porque tinha trabalhado tantas horas na noite passada e chegado de manhã, e ido pra outro emprego. Ver o seu cansaço e o seu sorriso, que puderam me proporcionar o sonho de ter aquela boneca. Lembrar hoje o quanto meu pai me amava, me protegia, me educava.
Lembrar as tantas vezes que vi minha mãe preocupada porque a gente não ia ter dinheiro pra ter um natal tão natal assim. Das vezes que juntas ficávamos olhando o brilho dos fogos de natal, e mesmo mudas em nossos mundos particulares, existia um amor tão grande que nos unia e nos completava.
Hoje olho em minha volta, e quando lembro do meu pai, sinto meu peito se inundar. Porque lembro da minha infância e não sei disfarçar o quanto eu amei o meu pai. Porque muitas vezes não perguntei como ele estava, mas ele estava sempre lá pra mim. Muitas vezes esqueci de entender o quanto ele se esforçava pra me ver feliz. Lembrar do meu pai fazendo de conta que nos batia, espancando o cabeceira da cama, e mandando a gente fingir que chorava. Tornando-se nosso cúmplice, e ensinando através da palavra a vida de verdade. Eu ia crescendo e preferia as vezes tomar uns sacolejo a ter que encarar a verdade das palavras do meu pai.
Hoje olho a minha volta e se sei dizer o que é certo ou errado, eu devo ao meu pai. Porque com dor no coração eu o vi muitas vezes, me deixando livre pra cometer meus próprios erros. Mesmo sofrendo ao me ver errar, meu pai me deixou aprender a crescer tanto, que hoje posso entender que não seria eu sem ter meu pai por mim.
Hoje olho a minha volta e me vejo passando noites acordada. Lembro da minha querida mãe, e de todas as vezes que a vi ficar só, noites e noites em claro, velando a vida do meu pai, mesmo que de longe. Ou as tantas noites, que meu pai estava tão cansado que ela ia com ele trabalhar à noite, pra ficar acordada no seu lugar. Lembro das vezes que a via chorar e com mãos pequeninas tentava secar suas lágrimas, dizendo que se a visse chorar ia também chorar.
Lembro da minha mãe e de todas as vezes que a gente se desentendeu. De todas as vezes, que não soube me explicar e a magoei . Lembro da minha mãe e entendo que nós talvez não estivéssemos preparadas. Porque hoje eu tenho a idade que ela tinha naquela época e sei que se tivesse uma vida nas minhas mãos, também não mediria consequências para protege-lá. E vejo que nem sempre estive lá pra chorar com ela, mas com certeza mesmo longe ela sempre soube quando eu chorei, quando o seu peito se sentia apertado.
Lembro da minha mãe, das vezes que a dilacerei, essas vezes, todas, doeram em mim também, porque eu amava minha mãe. Mas ainda assim eu parti e deixei minha mãe chorando pelo destino que eu escolhi, deixei minha mãe e perdi o melhor pedaço de mim.
Agora quando começam todas essas festas de natal e ano novo, quando vejo tanta gente me abraçando sem me conhecer de verdade, sinto tanta falta da minha infância que doí, ter que crescer a cada dia um pouco mais. Quando olho pra mim, vejo a casinha simples em que moro, o tanto que errei pela estrada, sinto falta dos natais que perdi.
Hoje eu já sei que tudo que é pra ser, não pode ser desviado. Hoje quando me dizem que sou igualzinha a minha mãe, já não fico tão braba por achar que pensam que não tenho personalidade própria ou copio a minha mãe. Dizerem que sou igual a minha mãe talvez queira dizer ser forte, ser mulher, ser digna, ser verdadeira. E isso me alegra. Pode até ser que eu tenha ficado um pouco ranzinza, ou exigente demais comigo e com os outros, mas, as vezes, isso é bom. Foi assim que com o passar dos anos pude entender o quanto minha mãe me ama.
Olho pra toda essa gente, festejando um sei lá o quê, ou tão tristes que enchem a cara pra esquecer. Me sinto só.
Lembro do meu paizinho e da minha mãezinha.
De tantas vezes que não disse o quanto os amava, das vezes que não pedi desculpa, do tanto que não me arrependi, e por isso sofri. Agora entendo que essa era a estrada que eu devia seguir pra aprender a viver. As vezes, perdendo, as vezes, ganhando. Chorando, sorrindo, chegando, partindo.
Lembro dos natais da minha infância, quando tudo era diferente, e por isso mesmo perfeito e único. Lembro da ânsia de crescer , ouvindo que ia passar muito rápido, e achar que era bobagem. Lembro de sempre ouvir mais nãos do que sins. Lembro de crescer.
Não moro mais com meus pais, não tenho o colo da minha mãe toda hora, nem o meu pai como cúmplice, não horas intranquilas. Mas queria muito poder dizer o quanto fui feliz na minha infância. O quanto, as vezes, sinto falta de ser aquela criança. O quanto tudo que vivi foi importante pra mim. E que aos meus erros só sobrevivi, porque eles me ensinaram como resistir.
Hoje olho pra vida que tento dia a dia construir, enxergo a todo instante, o quanto dos meus pais sobrevive no meu caráter, na minha dignidade. As vezes, levo umas rasteiras e lembro do meu pai dizendo pra exercitar todo o dia paciência e humildade. As vezes, ouço nãos e lembro da minha mãe, que disse tanto não pra mim que me fez entender, que dizer não, as vezes, é dizer sim.
Porque é natal, daqui uns dias, eu estou lembando da minha vida, da minha infância, e do quanto meus pais faziam da nossa casa um lar. Um lar onde nem sempre as coisas davam certo, onde nem sempre tudo era perfeito, mas por tudo isso e mesmo assim, era um lar. O melhor de todos, o único, o mais querido do meu coração.
Por isso os meus pensamentos, em dias como esse me levam até lá. Eu abraço o meu pai e minha mãe, e agradeço todos os dias por poder abraça-los. Porque são os maiores amores que conheço. E me proporcionaram os melhores natais que lembro que vivi.
Eu desejo nesse natal sempre lembrar o quanto já fui feliz por essa vida, com todos os sorrisos e lágrimas, com tudo que sempre entendi, com o que nunca entendi, mas principalmente, com tudo que aprendi com o meu pai e a minha mãe.
Ps.: Para meu Papis e minha Mamis.
Muito boa esta linda mensagem de reflexão, não só na sua infância mas na infância de cada um que ler e refletir, pois eu se conseguisse ver meu próprio futuro teria permanecido muito mais tempo na minha infância com meus queridos velhinhos pais que amo muito. parabéns pela postagem meu amor.
ResponderExcluirEu estava lá...
ResponderExcluirE ler isso me levou de novo a todos os dias que passamos juntos.
Que lembrança boa. Que lembrança bonita.
Obrigada por me fazer lembrar.
Essa é a única maneira de entender como algumas coisas são eternas. Quando elas sobrevivem ao tempo e compartilham emoções tão profundas e sinceras que nos fazem esquecer tudo que foi dispensável... Obrigado Suh.
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