Há dias

Esses são dias de avessos
Dias de pensar num passado distante, que nos encara com olhos de ressaca e por isso mesmo se tornam tão presentes
Esses são dias de estomago cheio e cabeça zonza
Dias desiguais e cheios de ontem
São dias pra lembrar o quanto se sonhou e o tão pouco que se realizou
Esses são dias de avessos
Dias de dizer na frente do espelho que tudo pode mudar
Esses dias são de enxergar
As rugas que hoje se desenham nas fotos
Aquela ruga de preocupação bem no meio da testa, que revela o quanto a gente se deixou embrutecer
Aquela rugazinha no canto da boca que desaprova mudamente o que você se tornou
São dias de cansaço
Porque o seu corpo já não tem o mesmo viço
Sua pele já não é mais a mesma e o corpo pesado denuncia que, realmente, o tempo passou
Esses são dias de avessos, dias desiguais que por me olharem tão profundamente, se tornam iguais

Há dias tão particulares
Que invadem o cotidiano meticulosamente desenhado
Tudo que aconteceu não foi de nenhum modo premeditado
Porque a gente não consegue se encarar por inteiro sempre
A gente não consegue não dizer o que devia ter, para sempre, calado.

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